O que significa o termo francês "Terroir"?
Desta feita resolvi falar sobre um tema que ainda causa muitas dúvidas nas pessoas, inclusive para muitos enófilos, apreciadores de vinhos e até mesmo profissionais do ramo. É o termo Terroir... Este, definitivamente, não é algo que se possa explicar facilmente, pois é um termo complexo e abrangente. Portanto, compartilho com vocês um pouco da minha experiência para ajudar a entender o que é Terroir!
E o que então significa “Terroir”?
Para mim seria bem mais fácil escrever ou falar sobre “terroir” se eu já não tivesse passado algum tempo num “Domaine” na Bourgogne - França, e vivenciado com eles e no meio deles a complexidade desse termo... Para os franceses está intrínseco na cultura daquele país, e para quem não vive lá ou nunca esteve visitando um Château na região de Bordeaux, um Domaine na Bourgogne ou mesmo um pequeno viticultor na Côtes-du-Rhône ou no Languedoc-Roussillon (Sul da França), realmente fica difícil compreender tamanha complexidade.
A palavra terroir é muito antiga, e acredita-se que seja uma modificação lingüística de formas antigas - tieroir e tioroer, com origem no latim popular “territorium”.
Características
de produção, desde a forma de plantio da uva, o tratamento, a colheita e a elaboração
de vinhos - geralmente com produções bem pequenas - foram fatores relevantes na
formação deste termo, definido no Século XIX, exatamente em 1929!
Mais recentemente, desde uns 15 anos
atrás, a palavra “terroir” ganhou uma
conotação positiva no mundo do vinho, e embora sem entender muito, sabe-se que
se trata de algo bom...
Mas o que exatamente?... Alguns associam apenas como sinônimo de clima, o que acho simplista demais para um termo tão abrangente... O que posso dizer é que o “terroir” - considerado o principal fator pelo qual uma casta (uva) possa, em locais distintos, dar vinhos tão diferentes, é tradicionalmente definido como o conjunto de fatores ambientais que caracterizam um vinhedo... Em outras palavras: o solo, sua estrutura, sua exposição ao sol, vento e chuva, sua orientação geográfica, sua topografia, o clima, e o micro-clima que lhe está associado.
Na verdade,
“terroir” é uma
palavra antagônica a toda forma de padronização, de uniformização e
estandardização do vinho. E vai de encontro ao que é natural, original, ao
típico. Ou seja, na França, é a propriedade toda onde se produz o vinho,
incluindo tudo o que já disse anteriormente e mais o amor com que se dedicam a
fazê-lo!
O “terroir”, como um conceito cultural
(principalmente na França), considera que a maior parte das pessoas vive para a
produção dos vinhos, que para elas não é uma simples mercadoria, mas uma obra
de arte da qual participam e se orgulham. A produção destes vinhos é parte da
cultura local e está relacionada com a identificação que estas pessoas possuem
com sua região e seu país.
Este é o
motivo pelo qual podemos compreender o tratamento dado pela resistência
francesa aos vinhos durante a Segunda Guerra Mundial. As garrafas foram um
tesouro bem protegido e escondido dos alemães!... Obviamente, o sentido de
preservação não consistia apenas em conservar um bem material, mas o símbolo de
uma identidade, de um orgulho nacional. Não entregá-lo era, em certa medida,
poupar a própria alma dos franceses, ou ao menos daqueles grupos que se
vinculavam culturalmente aos terroirs!
E é por isso que o termo é tão
complexo, unir os elementos naturais ao “savoir-faire” (saber fazer), como
dizem os franceses, é o que faz toda a diferença.
Conseguir expressar em um vinho as características do solo, sua estrutura, sua exposição ao sol, vento e chuva, sua orientação geográfica, sua topografia, o clima, e o micro-clima da região, através das intervenções humanas, seja o vigneron (viticultor) homem ou mulher, realmente é algo que vai muito além de “clima”... E isso é “terroir”!
Vinhedos
do “Domaine Olivier Leflaive”, em Puligny-Montrachet - Bourgogne, França.
Bons goles e até a próxima!!!
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